segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Cenoura como nunca vi. Ou Pão de cenoura velha


Na última postagem, perguntei o que era uma coisa estranha, pontuda, espinhuda.  A primeira a responder, a Maria Amélia, já matou a charada. Pensei que todos os outros seriam levados a acreditar nela, mas muitos tiveram outros palpites e alguns hesitaram, como o Nádia. Parabéns aos leitores Nelson, Inessa, Cátia e Gilda. Achei divertido perguntar porque é parte daquilo que comemos corriqueiramente. Porém, tinha certeza que muitos leitores, assim como eu, raramente tem oportunidade de conhecer as hortaliças na intimidade durante todo o seu ciclo, até o estado de senescência. 

Na semana passada participei de um mutirão com o pessoal da Associação Piracaia Orgânica, da qual faço parte. O trabalho, que foi prazeroso e divertido, era livrar alguns canteiros de plantas já velhas e prepará-los para receber mudas novas. Mutirão é tudo de bom.  Fiquei com dó das cenouras senis de esqueleto endurecido pelo tempo. No mercado, não teria chance. A planta estava vistosa, mas já com flores, lindas, por sinal. Coisa que ninguém vê.  E quando isto acontece, as cenouras já estão duras.  Então pedi algumas para mim. Trouxe pra casa e pensei que pudesse cozinhar tudo e triturar para colocar no pão. Cozinhei até que ficassem com a camada externa macia. Fui cortar para bater no liquidificador e só aí me dei conta do quão lenhoso era aquele miolo. Incortável, portanto.  E amargo. Em compensação, a camada mais colorida se despregava daquele talo como se fosse separada dele com uma fina camada de óleo ou gel escorregadio. O que mantinha uma coisa grudada à outra eram filamentos também lenhosos parecidos com finos pregos.  A camada colorida continua com sabor de cenoura, ainda mais doce e concentrada, rica em betacarotenos como a cenoura jovem - talvez até mais. O que amarga a cenoura velha é o talo e não esta polpa que vai se afinando, condensando. Separei a polpa, bati pra virar purê e usei no pão. Acrescentei também um pouco das folhas, que triturei junto, e uma pitada de sementes de endro, que é da mesma família da cenoura e contribui para um sabor cenoresco ainda mais marcante.  Os talos,  joguei na reciclagem - mas logo tirei e achei por bem lançá-lo na charada. Por isto, ampliando a foto como fez uma leitora, vê-se até um cabelo talvez meu e um pelo, da dendê talvez. Foi fotografado sobre uma mesa de quintal suja de terra, e depois devolvido ao balde de compostagem. Portanto, o talo? Não se come-se não, sim senhor. 



Fiz uma massa simples, com fermento biológico seco.  Aqui vai a receita. 

Não descasquei a cenoura, apenas lavei com escovinha de aço
Depois de cozida, a polpa escorrega do talo
Polvilhe farinha ou grude endro na superfície (passando água antes)
Grudei uma cenourinha pra ninguém confundir com outro  pão
Com manteiga e nhac!
Pão de cenoura velha

225 g de polpa de cenoura cozida (jovem ou velha)
30 g de folhas de cenoura 
2,5 xícaras de água 
1 envelope de fermento biológico seco (ou 1 colher de sopa)
1 colher (sopa) de mel 
1 colher (sopa) de sal 
Cerca de 1 k de farinha branca (tenho usado a orgânica Mirella que custa o mesmo que a Renata e compro no Extra)
4 colheres (sopa) de manteiga
1 colher (chá) de sementes de endro 

Bata a cenoura cozida e as folhas no liquidificador com 2 xícaras de água. A outra parte da água, coloque numa bacia e dissolva nela o fermento. Quando estiver bem derretido, junte a cenoura batida, o mel, o sal, e a farinha, aos poucos. Vá mexendo com colher até ficar difícil. Comece a sovar com as mãos, juntando mais farinha aos poucos. Quando quase toda a farinha foi adicionada, junte a manteiga em ponto de pomada e o endro. Sove mais para incorporar tudo, juntando mais farinha,  até a massa ficar homogênea. Cubra com plástico e deixe a massa repousar até dobrar de volume. Divida a massa em três, modele os pães, coloque em forma untada e enfarinhada e deixe crescer até recuperar o volume que perdeu com o modelamento. Polvilhe na superfície farinha ou umedeça e jogue por cima  uns grãos de endro, corte a superfície e leve para assar em forno bem quente, pré-aquecido. Deixe assar por 10 minutos, diminua o forno para baixo (180 C) e deixe assar por cerca de 50 minutos  ou até que a superfície esteja corada. 

Rende 3 pães


E falar em desperdício alimentar, não deixe de ver o vídeo Fruta Feia:  
http://vimeo.com/62579290

8 comentários:

Leticia Cinto disse...

A-d-o-r-e-i saber que até cenoura velha tem bom uso!!! :) Um NÃO bem grande ao desperdício! Bjs!

Maria Amélia disse...

Rá, fiquei feliz por acertar. Já tinha arriscado um ou outro palpite em posts anteriores, sempre sem êxito. rsrs. Nunca tinha visto as flores da cenoura.

Nadia Marrach disse...

Bom, o inisitado ficou por conta das flores da cenoura que eu nunca tinha visto e que provavelmente come-se!Também não sabia que o endro (Ô coisa boa!) era aparentado com a cenoura!!! Bjs!

Naomi disse...

Olha, o que vou providenciar na minha casa é essa escova de aço para limpar a cenoura! Minha mãe passava a faca meio que ralando a casca, para evitar desperdício. Eu toda preguiçosa uso o descascador de legumes, mas essa escovinha eu não conhecia, vou tentar. Abs!

Anônimo disse...

Faço bolo de cenoura mas é liquido, no liquidificador..

Unknown disse...

http://www.replicasde.com.br/ Replicas idênticas ao modelo ORIGINAL.

Ricco Paolo Atacadista disse...

Público que consome relógios baratos,simples ou sofisticados,temos em todos os cantos.
Sejam de qual gênero for,relógios causam uma certa fascinação em seus admiradores e consumidores,que chega ao ponto de ser inexplicável.
Intimamente,nutrimos pelo relógio de pulso algo como sentimento de parceria,companheirismo ou até,de forma meio insana,um "amigo" nos momentos de solidão e instrospecção,caso a pessoa em questão não tenha um cachorro ao lado...rsss.
O relógio de pulso nos dá um sentimento de posse e também de aconchego.
Existe um lado bastante infantil e agradável nesse cadinho de sensações ou emoções,que nos fazem lembrar de quando éramos
garotinhos ao ganhar um presente novo ou o "presente dos sonhos".
Um objeto bilhante,bonito,móvel,útil e em contato com nossa pele,de forma por constante e indispensável.
Quem nunca deu meia volta e retornou para casa,somente para resgatar o "parceiro" das garras da escrivaninha,mesa ou criado mudo e nutriu uma sensação de vitória, heroísmo e alívio?
Somente loucos por relógios são capazes de tal atitude estranha...rs.
Não importa o valor do relógio em sí.Isso é absolutamente indiferente!
Todas as peças,sejam baratas ou caras,carregam em sí uma boa parcela de Cálculos Matemáticos,Engenharia Eletrônica,Engenharia de Materiais e planejamento realizado por Designers especializados.
Um amante de relógios não pensa no valor do objeto;pensa apenas em ter aquilo sempre consigo,como se aquela interessante peça,fosse uma parte vital de seu corpo.
Tudo bem em ser taxado de maluco. Somos loucos por relógios e ponto Final!!!

https://www.riccopaoloatacadista.com.br/





Alice disse...

Texto muito gostoso de ler e só confirmou o que sinto pelas plantas! Elas são seres muito especiais. Eu não quero comer (matar, judiar) de nenhuma planta, pois temos frutas e certos legumes como chuchu, abóbora, que parecem ser presentes das plantas para nos alimentarmos, sem arrancar partes que podem ser sensíveis (sim, acredito que a planta sente, de forma própria dela). Cenoura, batata, mandioca, corta a vida da planta. Alface, brócolis... são muito vivos e não quero matar. A última cenoura que tinha aqui na cozinha eu plantei e quero vê-la voltar a ser uma planta majestosa e que viva tanto para ser florida, pelo seu valor de ser vivo, não como comida.