quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Comida Paulista - feijão tropeiro de Joanópolis


...os cozinheiros preparam a refeição, que é composta de feijão, carne seca, farinha de mandioca e toucinho.

1844 - Arredores de Serra Dourada, em Goiás, sobre a tropa em trânsito do Rio de Janeiro a Cuiabá - Francis Castelnau. Expedição às Regiões Centrais da América do Sul (1843-1844). t. II, São Paulo, Biblioteca Pedagógica Brasileira/ Companhia Editora Nacional, 1949. p. 113

Tropeiros eram homens fortes que transportavam mercadorias no lombo de burros e cavalos, desde o Brasil Colônia até meados do século 20, cortando estados produtores e consumidores como São Paulo, Minas, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná. Não eram boiadeiros, mas sim condutores do veículo de carga - no caso, os animais. E, porque São Paulo era o estado que concentrava mais riqueza e prosperidade por causa da aristocracia ligada ao café, o tropeirismo está intimamente ligada ao Estado. Então, embora o feijão tropeiro seja batizado e crismado como prato típico da culinária mineira, existe sim o feijão tropeiro paulista, comum em várias cidades como as do Vale do Paraíba e, agora fiquei sabendo, também de Joanópolis. O fato é que podem ser encontradas variações com farinha de milho ou de mandioca em várias regiões por onde os tropeiros passaram e deixaram seus rastros. Nas canastras, estes homens levavam ingredientes secos e não-perecíveis como feijões, farinhas, lingüiças e carnes secas que, completados com ingredientes e temperos locais e misturados numa só panela, deram origem ao prato. Farto, consistente, substancioso, como tinha que ser o combustível para os dias difíceis de jornada.

Outros tipos de virado sem nome próprio, às vezes tutu, com feijão, farinha, carne de lata, lingüiças, toucinhos, restos de carne de porco assada ou o que estiver dando sopa na cozinha, são comuns nas roças, afinal feijão é cultura fácil e rápida, não ocupa muito espaço, pode ser plantado na horta ou entre as leiras de milho, depois de seco, dura meses e, principalmente, dá "sustança". E farinha, ah, farinha de milho ou de mandioca, brasileiro sempre tem.

Meu avô fazia no prato seu virado e com as mãos modelava bolinhos que dava para os netos comerem com as mãos. Era uma forma de fazer crianças enjoadas comerem e para mim, que nunca dei trabalho pra comer, era só uma entradinha, e este sim tinha nome: era o Capitão ou simplesmente tutu de feijão.

No Revelando São Paulo deste ano encontrei feijão tropeiro na banca de Joanópolis, uma cidade perto daqui, a 145 km, com lindas cachoeiras e arrepiantes histórias de Lobisomem. Tem lá até uma Associação de Criadores de Lobisomem. Ou de histórias de lobisomem. E até comida de lobisomem. Pergunto se as cozinheiras já viram. Não, mas todas conhecem alguém que já viu. Yo no creo em losbisomem; pero que los hay, los hay. Como não quero pensar nisto, meu negócio é comida e que seja até a do lobisomem, aqui vai a receita do feijão tropeiro ditada de memória – como todas do Revelando são Paulo que postei aqui até agora -, pela Benedita Helena.


Feijão Tropeiro, por Benedita Helena Martins Oliveira

Ingredientes
500 g de feijão carioquinha
½ xícara de óleo
3 dentes de alho socados
1 cebola picadinha
1 xícara de bacon picado
½ xícara de lingüiça calabresa fatiada
6 folhas de couve fatiada fininha
Cerca de 250 g de farinha de mandioca
Cheiro-verde a gosto
6 Ovos cozido para decorar
Torresmo para acompanhar

Modo de fazer
Lave bem o feijão, cubra com água e deixe de molho de um dia para outro ou por cerca de 8 horas. Escorra, coloque numa panela de pressão, cubra com água – cerca de 2 litros, tampe e leve ao fogo para cozinhar em fogo alto. Quanto a válvula começar a chiar, abaixe o fogo e deixe cozinhar por cerca de 15 minutos. Espere acabar a pressão, abra a panela e escorra. Os grãos devem estar macios e inteiros. Se não, cozinhe mais um pouco com a panela aberta para não deixar passar do ponto.
Numa outra panela grande, aqueça o óleo e doure nele o alho e a cebola. Coloque o bacon e a lingüiça, refogue rapidamente e junte o feijão escorrido. Salpique sal a gosto. Junte a couve e a farinha e mexa delicadamente, até aquecer bem. Confira o sal, junte o cheiro-verde e decore com ovos cozidos. Sirva com torresmo.

Rende: cerca de 10 porções

Para tropeiros ativos, carne de porco frita e cheirosa pode acompanhar o feijão tropeiro. Para toupeiras sedentárias como eu, uma salada de folhas é o que basta.


Onde comer Feijão Tropeiro em Joanópolis
Restarante Caipirão - Tel. 11 4539-7110
Restaurante À Moda da casa - Tel. 11 4539-7053


Nas sextas-feiras de lua cheia, este é o prato do lobisomem, em Joanópolis


Um comentário:

Carlos Alberto de Lima disse...

Nem tinha visto este post... e eis que faço a mesma comida!!!!!!!!!

Então, dê um beijo na Mariângela por mim.